O menino que veio da
lua
Nívea Moraes Marques
A lua é um lugar todo branco e fresquinho, boiando num imenso
universo azul.
Da lua é possível avistar a terra.
Um dia um menino que morava na lua sentiu uma imensa saudade
da terra sem nunca ter estado ali, via os mares e as poucas florestas, os
recortes das cidades, as plantações em tempo, ora de plantio, ora de colheita e
pensava existirem meninos correndo por entre caminhos mais lindos de barro e
sol, de mar e sal.
Doido de vontade de se meter com aqueles povos distantes,
construiu para si uma nave e embarcou nos anos luz que pudessem o levar até lá.
Chegou num dia claro de maio, às portas de uma família,
compreendeu o que era humanidade no estalar de um beijo por entre um sorriso,
tinha pés e mãos como nós, seu coração, no entanto, diferia um pouco, era todo
branco e fresquinho, boiando num imenso universo azul.
Nunca quis retornar ao seu espaço, era pequeno e grande na
nossa escala e quando fechava os olhinhos as estrelas pendiam de seus pequenos
cílios, o céu habitava seu quarto e ele logo dormia sem sonhos.
De manhã contava as espécies de aventura e traquinagem que
sempre estavam à sua mão e a dos outros seus companheiros, mais as mil outras
que ele trouxera direto da lua.
O menino que veio da lua era quase um menino igual aos que já
nasceram na terra, não fosse seu coração boiando no azul do universo num lugar
branco e fresquinho onde nunca acabava a saudade da companhia de muitas gentes
e dos recortes das enseadas.