sexta-feira, 5 de outubro de 2012

BEBÊ



Bebê
Nívea Moraes Marques

Leque vem e faz uma ventania de letras
grudando saliva e sílabas no céu da minha boca
com elas construo barquinhos navegáveis
no estreito embandeirado dos dentes da minha boca
é que no fundo oco do que penso ser a caixa do meu sustento
há as pernas suntuosas do jogador, de chuteiras e meião
às tardes sempre sonoras e cobiçosas de amigos
a gente inventa tapete de grama boa
e rola com bola com chuteira
com suor novo de pele limpa
curtindo com a cara suja
desse povo que é dono do tempo
inventores de paralelepípedos
onde a gente subisse
degrau por degrau
na ascendente
como uma vida crescendo
de um futuro rítmico que voa
mas a gente rola feito bola
descendo descendo descendendo
como um eterno bebê...