domingo, 11 de março de 2012

A LUA DE GUIGUI

Mora na Lua
Nívea Moraes Marques

Na lua de Guigui mora um lobo de boca aberta.
Na lua dos meninos de ontem era São Jorge que morava, montado em seu cavalo a vagar pela vastidão da noite.
Guigui se esconde da lua, mas seu irmão, Capitão de laços e espada, o protege da mordida do lobo.
Quando a lua está minguante, o lobo apenas balança a cauda, sem dentes. Como se fosse pedaço de nuvem ou pelo branco de Rusk, a Sibéria num mundo quente, derrete. Derretendo os medos do pequeno Gui.
Mas se engorda a lua, vem a matilha uivando pra dentro do sono brando do menininho.
Guigui não acredita que o homem visitou a lua, tem lobo demais lá, nem mesmo os americanos dançariam com tais lobos.
Chama vovó, chama a bisa, chama a titia e a mamãe, cercado de tantas saias, espia num cantinho de olho a vila dos lobos uivantes e jura não contar carneirinhos nesta noite de lua cheia, porque não há de sobrar um para lhe contar histórias de “urubu não ir”.
Penso que ao crescer esse menininho vai ter uma namorada, e a lua desabalada vai tentar ser companhia e ele peralta, com uns óculos coloridos, Gui vai encarar os lobos de pelos punk e descaradamente vai fazê-los panda, vai fazê-los micos dourados, vai fazê-los tantos palhaçados que um a um em roda declinarão o nome das crianças assustadas que da lua reclamam a morada para o saudoso santo guerreiro matador do dragão.
O rescaldo dos vadios lobos brancos (curtidos no balde de cores de um Guigui gaiato, que pela namorada, encara a lua de frente com as suas quarenta e duas polegadas e em cores, num filtro rapaz, recém-saído da barra das saias e do vulto de seu forte irmão capitão), escaldados, os lobos em fileirinha, com rabos para sempre à míngua ensaiam autos de ninar, cumprindo nova função no céu azulado do menininho Gui: arregimentar carneirinhos e vigiá-los inteirinhos só para o sono crescer e crescer o nano Guigui até surgir o seresteiro das noites enluaradas: Guilherme com a sua amada, iluminados pela tal de lua e toda a sua corja de lobos e santos. (sempre será melhor apenas estar sob lua – e à certa distância - em noite alta)

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